Antes de ser Mulher-Maravilha do PAC e Supermãe do povo, Dilma Rousseff foi uma criatura normal. Sobre o passado pré-heróico da candidata sabe-se apenas o que o marketing autorizou a contar. Ou seja: pouquíssimo.
Certas passagens soaram insinceras. Por exemplo: a versão de que Dilma sempre acreditou em Deus não convenceu.
Porém, exceto por alguns bispos incrédulos, ninguém se animou a fazer da dúvida um cavalo de batalha.
Duvidar de uma conversão seria tolice. Como a religião, a política é feita de conversões.
Para quem já aceitou o Sarney e o Renan, a adesão ao Padre Eterno é uma contrição menor.
No esforço para descontruir a juventude da antagonista, a oposição não tem sido muito sutil. Responde ao exagero com o excesso.
À imagem marqueteira de uma Dilma com alma de Mandela contrapôs a caricatura de uma guerrilheira de mosturário.
A simplificação, por grosseira, facilitou o trabalho de quem se ocupa da reconstrução do passado da candidata.
Pois bem. Descobre-se agora que, no caminho entre a Dilma mortal e a super-heroína, há uma aventura capitalista.
A repórter Fernanda Odilla conta que, na década de 90, Dilma tentara firmar-se como empresária. Fora sócia de um comércio, em Porto Alegre.
Sua loja tinha nome sugestivo: “Pão & Circo”. Tomada pelas quinquilharias que se dispunha a comercializar, oferecia mais circo do que pão.
O comércio de Dilma vendia confecções, eletrônicos, tapeçaria, livros, bebidas, tabaco, bijuterias, flores naturais e artificiais. Tudo a preços mixurucas.
O ponto alto da vitrine eram os brinquedos. Em especial bonecos como esse que ilustra o texto.
Eram os “Cavaleiros do Zodíaco”, um desenho animado japonês que fazia sucesso à época. A garotada adorava.
Durou pouco a experiência liberal de Dilma. Com um ano e cinco meses, foi à breca. Fechou as portas em julho de 1996.
A incursão da mulher comum no mundo dos negócios foi omitida na biografia da candidata. Ali, preferiu-se enaltecer a capacidade gerencial da Supermãe.
Instada a comentar a omissão, Dilma apenas confirmou, por meio da assessoria, a breve existência da lojinha.
De resto, mandou dizer que não falaria sobre o tema. Uma pena. Se esmiuçasse a experiência, só teria a ganhar.
Entre os sócios de seu negócio, figurava o ex-marido Carlos Araújo, ex-dirigente da VAR-Palmares –o grupo armado no qual Dilma militara contra a ditadura.
Inserindo a experiência empresarial no histórico de Dilma, o marketing do comitê poderia sustentar a tese de que sua conversão ao capital ocorreu há 15 anos.
Melhor: poderia atribuir o malagro da “Pão & Circo” aos desacertos da política econômica de FHC, que presidia o país no ano da falência.
Não há de ser nada. A despeito da ocultação, o eleitor vai percebendo que a Mulher-Maravilha é uma personagem mais próxima do que ele supunha.
Ela se parece contigo. Está sujeita às mesmas vicissitudes. Tem as mesmas necessidades. Veste as mesmas roupas.
A diferença é que você ainda não fez plástica no rosto e não teve a ventura de ser apresentado ao Alexandre Herchcovitch.
Fonte: Blog do Josias.
Em tempo: se Dilma não consegue administrar um pequeno negócio em Porto Alegre, como vai fazer para administrar o Brasil?