segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A internet dá as cartas nas eleições 2010*

Esqueça os carros de som, os panfletos e os outdoors. A revolução do marketing político está acontecendo no mundo dos bits e dos bytes. E, dentro desse contexto, as eleições de 2010 têm tudo para representar um marco da incorporação dos sites, blogs e redes sociais ao processo eleitoral brasileiro.
A internet ainda é um mundo novo para a maioria dos políticos e partidos no País. Mas, se nesses momentos de desbravar o novo sempre existe um norte a ser seguido, nesse caso ele se chama Barack Obama. O atual presidente dos Estados Unidos foi o responsável por mostrar, através do exemplo, que a web é um meio do qual candidato algum pode prescindir nos dias de hoje. Principalmente no Brasil.
Até o mês de maio, existiam 73 milhões de usuários da rede mundial em território brasileiro. O País é um dos líderes mundiais no uso das redes sociais, como YouTube, Twitter e Orkut, e possui um perfil de internautas francamente interessados em interagir online. Com tanta abrangência, discutir política na web reforça o próprio conceito da democracia. “Twitter e blogs são meios de comunicação com custo baixo e não dependem de concessões. Isso é a própria democracia. Onde temos essas ferramentas livres, é porque prepondera a liberdade de expressão”, observa o coordenador do curso de comunicação digital da Unisinos, Daniel Bittencourt.
Acertar o tom dessa comunicação é que é o grande desafio que se impõe. De acordo com especialistas em marketing político, nada do que está sendo feito até o momento no Brasil se assemelha ao realizado por Obama e sua equipe, desde 2007, quando ele anunciou a sua candidatura às eleições.
O ambiente MyBarackObama.com (MyBO), criado na internet, conquistou 2 milhões de perfis de usuários. Cerca de 200 mil eventos offline foram planejados através dessa plataforma e 400 mil posts escritos. Os números impressionam. Em suas páginas para angarir fundos próprios, 70 mil pessoas levantaram US$ 30 milhões. Para especialistas em internet, não fosse o uso acertado dessas ferramentas, Obama ainda seria apenas um senador de Illinois, já que a diferença para o segundo colocado, John McCain, foi atribuída ao espaço conquistado através da web.
O sucesso da iniciativa de Obama pode ser facilmente explicado. O candidato se cercou de profissionais especializados em marketing digital, o que levou à elaboração de um planejamento de todas as ações. O cuidado com a imagem na web era fruto de uma ampla estratégia.
No site YouTube, por exemplo, havia uma atenção constante aos vídeos publicados e que envolviam o nome do candidato. Quando eram considerados negativos, as equipes atuavam para postar novos vídeos, de forma que os não oficiais fossem ficando cada vez mais para baixo da tela e, assim, menos acessíveis pelos usuários. Outra estratégia foi criar aplicativos específicos dentro da sites como Facebook.
Para o CEO da Agência Mentes Digitais e autor de três livros sobre marketing digital, André Telles, a mídia offline e a online são completamente diferentes e os profissionais envolvidos nessa estratégia precisam ser capacitados. “Não adianta chamar assessores que simplesmente saibam usar o Facebook ou o Twitter e achar que isso os credencia a fazer uma campanha na web”, diz.
O ponto de partida das ações na web é a criação de um relacionamento com os usuários, o que envolve muito mais do que simplesmente aparecer para os eleitores a qualquer custo. “O pior erro é o candidato não conseguir estabelecer na web um diálogo interativo, natural e espontâneo. Se ele está ali, deve exercitar isso”, revela Telles.
A palavra-chave é cativar os eleitores. O candidato não deve se preocupar em falar dele mesmo e, sim, apresentar as suas propostas e se voltar para as causas nas quais ele acredita. Dentro da web, existe um universo imenso para que isso seja exercitado.
Um político que tenha na sua plataforma ações voltadas para os portadores de necessidades especiais, por exemplo, pode buscar grupos de discussão e comunidades em sites como o Orkut ou outros, relacionados a esse tema. Ali, ele poderá apresentar os seus projetos para as pessoas que são efetivamente impactadas por esse tema. Também é um bom caminho para valorizar a origem, a biografia e os projetos que tem para o estado ou para o País. Comentar excessivamente a agenda, sem provocar o debate de temas importantes para a nação também não tem se mostrado a estratégia mais adequada.

*Notícia publicada na edição impressa do Jornal do Comércio do dia 16/08/2010

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