Qual é a sua análise sobre a atual situação da agricultura familiar no Rio Grande do Sul?
Presidenta – A agricultura familiar e de médio produtor estão se fortalecendo. A diversificação de atividades, com a ampliação da fruticultura, avicultura e bovinocultura de leite, ganharam muito espaço no Rio Grande do Sul. Atualmente as políticas públicas estaduais são bem definidas e as ações da Emater/RS-Ascar são calcadas no desenvolvimento da pesquisa, através da Embrapa e da Fepagro, de novas atividades com base no zoneamento das culturas. Podemos citar a cana-de-açúcar, a silvicultura, a canola, o girassol, a mamona, a soja e o milho. Essa diversificação na matriz produtiva do Estado confere sustentabilidade e persistência à atividade primária e contribui para estabilizar os volumes de produção e a atividade econômica. Quando a monocultura está presente a vulnerabilidade do setor torna-se iminente devido à dependência do setor primário a fatores que não são de domínio da atividade, como preço e clima. Também soma para o desenvolvimento da agricultura familiar o apoio dado pela extensão rural, a oferta de crédito, as tecnologias disponibilizadas pela pesquisa e políticas públicas como Irrigação, Troca-Troca de Sementes e outras que vêm proporcionando um desenvolvimento equilibrado do setor primário do RS.
Qual é a sua força?
Presidenta – A agricultura familiar tem uma atuação decisiva no crescimento econômico do Estado e uma importância fundamental na geração de renda, empregos e, principalmente, na produção de alimentos. Segundo o Censo Agropecuário 2006, o RS possui 441 mil estabelecimentos rurais, 85% explorados pela agricultura familiar. E de acordo com a Fundação de Economia e Estatística (FEE), aproximadamente 45% dos municípios possuem mais de 45% do seu Valor Adicionado Bruto oriundo do setor primário. Estamos entre os quatro estados maiores produtores do país. Estimulando a produção de grãos, frutas, carnes, leite e produtos agroindustriais, estamos contribuindo para elevar o PIB dos municípios e promover seu crescimento. A força da agricultura familiar consiste nisso: em termos uma atividade desenvolvida por agricultores hábeis, com domínio de modernas tecnologias, parceiros dos órgãos de pesquisa e de extensão rural, organizados em cooperativas, sindicatos e associações, e que tenham a consciência da sustentabilidade, estruturando adequadamente suas propriedades e equilibrando condições sociais, econômicas e ambientais.
Qual o diferencial do governo Yeda nas políticas públicas voltadas à agricultura familiar?
Presidenta – As políticas estaduais, neste governo, são bem definidas e as ações da Emater/RS-Ascar estão calcadas no desenvolvimento da pesquisa, o que vem proporcionando um desenvolvimento equilibrado do RS e um cenário de estabilidade na produção. Com o atual governo ganhamos força, vitalidade e capacidade de prosseguir com as ações no campo. A participação do Estado no orçamento da Emater/RS-Ascar, nos últimos quatro anos, tem sido superior a 70%. É o Estado que tem garantido a maior parcela dos recursos para custeio e investimentos na Instituição. Hoje somos referência em termos de qualidade em nível de Brasil, graças à valorização que o governo Estadual está dando ao serviço de Assistência Técnica e Extensão Rural. Não é à toa que nestes últimos quatro anos iremos atingir uma produção em torno de 90 milhões de toneladas, com as culturas de soja, milho, trigo, arroz e feijão. Isso é fruto do reconhecimento dado ao setor primário, como forte impulsionador da economia. Este governo trouxe mais segurança ao campo, maior disponibilização de tecnologias para os agricultores visando aumento da produção, além de ampliar o diálogo entre os diferentes agentes das cadeias produtivas. Ações de cunho social também ganharam forte impulso com os programas Rio Grande Mulher, Rio Grande Jovem e Rio Grande Família. A extensão rural está, cada vez mais, junto das famílias rurais, promovendo as condições de ampliação da cidadania, de uma melhor qualidade de vida e de acesso às políticas públicas. Outra grande realização deste governo é a criação de uma cultura voltada à irrigação, beneficiando regiões que sofrem grandes perdas com as estiagens. Só para citar como exemplo, em apenas dois anos, agricultores e pecuaristas de mais de 300 municípios gaúchos foram contemplados com a construção de 3.166 microaçudes e 1.446 cisternas em suas propriedades rurais. Já foram aplicados R$ 45 milhões no programa e a ação já começa a minimizar efeitos dos períodos de seca prolongada, assegurando maior estabilidade à produção rural, especialmente na agropecuária familiar.
Quais os desafios?
Presidenta – Produzir com responsabilidade social, ambiental e retorno econômico. Estamos vivenciando uma busca permanente por soluções que amenizem os conflitos de interesse entre crescimento econômico e conservação ambiental. É necessário produzir com responsabilidade, entendendo e respeitando os ciclos da natureza, sem usar de modo inadequado os recursos naturais que são essenciais à vida do planeta. E isso se faz pela via do conhecimento, pelo domínio dos processos produtivos, pela capacitação no uso de modernas tecnologias e mesmo pela adoção de pequenas mas indispensáveis ações que no cotidiano ajudam a produzir com sustentabilidade. Junto com o governo do Estado a Emater/RS-Ascar desenvolveu o Programa de Revitalização dos Recursos Naturais no RS, com o propósito de associar produção agropecuária com conservação ambiental e, através do Programa Ambiente Legal, orienta produtores a adequar a propriedade à legislação ambiental. Outro grande desafio é produzir em maior quantidade e com mais qualidade, uma exigência do mercado consumidor. Para isso é preciso investir nos processos de classificação e certificação de alimentos, para os quais temos que estar preparados, atestando com segurança a qualidade o que chega na mesa do consumidor.
Presidenta – A profissionalização do meio rural é fundamental. O futuro é promissor, mas precisamos avançar na utilização de tecnologias e buscar novos mercados para os produtos da agricultura familiar. O campo depende muito da aplicação dos conhecimentos que estão sendo gerados pela pesquisa. Por isso, os produtores precisam estar habilitados, tornando-se mais competitivos, a fim de acompanhar os avanços exigidos pelo mercado consumidor. Essa é uma vantagem competitiva importante e indispensável. Também é fundamental que o produtor detenha o controle gerencial de seu processo produtivo, que aprenda a gerenciar e planejar a propriedade rural nos mesmos moldes de uma empresa, buscando tanto a eficiência produtiva quanto a econômica. Administrar os custos, contabilizar receitas e despesas e programar bem o tempo são algumas ferramentas essenciais para o sucesso da atividade e que precisam estar enraizadas na rotina de trabalho do produtor rural. Isso poderá ser um diferencial entre quem fica e quem sai da atividade.
*Águeda Marcéi Mezomo é a primeira mulher no Brasil a chegar a Presidência de uma Emater, tendo assumido oficialmente o cargo no dia 26 de abril de 2010. É também Diretora Técnica da Emater/RS, Superintendente Geral e Superintendente Técnica da Ascar. Compõe ainda a diretoria da Federasul - Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul.
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